domingo, 14 de junho de 2009

A feira da Rua Coimbra

Por Janaina Freire



A Mooca é conhecida como o reduto italiano de São Paulo e é quase impossível não associa-la aos italianos e as suas festas típicas. É fácil imaginar que em um breve passeio pela região encontraremos algumas cantinas e pizzarias italianas. Experimente descobrir os arredores próximos a estação de metrô, nos sábados à tarde: o que mais chama a atenção nas redondezas é encontrar a todo instante grupos de pessoas com feições indígenas.

São casais e jovens bolivianos, provavelmente trabalhadores das confecções de costura da região, e também famílias inteiras, que se concentram na Rua Coimbra, o ponto de encontro de bolivianos da região. Nas tardes de sábados e domingos, barracas improvisadas de comidas típicas, produtos naturais, roupas, acessórios, músicas e muita movimentação já são vistas pelos dois quarteirões da rua. Dizem que a feira não tem hora para acabar. Durante à noite são organizadas festas em pequenos salões e o movimento continua intenso.



No início do quarteirão dois jovens bolivianos, que pouco entendiam o português, visitavam a feira pela primeira vez e se divertiam nas mesas de pebolim. Elas ficam pelas calçadas, logo no início da rua, e crianças e adultos jogam por R$ 0,15 a ficha. Também há opções de serviços, como cortar os cabelos nas diversas peluquerias ou acessar a internet, em terminais de computadores também improvisados nos fundos de alguns comércios. Perto dali, Rodriguez, que entendia um pouco mais a nossa língua, vendia cd’s de músicas folclórica e popular bolivianas. O ritmo mais procurado por lá é o Regueton, uma mistura de hip-hop com música latina.


O que surpreende na Rua Coimbra não é só a concentração dos bolivianos em busca de entretenimento e serviços em uma região tão conhecida como reduto italiano. O espanhol é praticamente a língua oficial da feira: os letreiros dos comércios, os menus dos restaurantes, as placas de divulgação e afins são grafados na língua materna de seus integrantes e se você quiser se comunicar, será preciso enrolar a língua. As músicas, as conversas, as feições, as comidas típicas, com muitos Pollo y Papas, nos fazem, por alguns instantes, pensar estar mesmo fora do Brasil.




Em uma banca de produtos naturais conhecemos Carmem, 42 anos, que já vive no Brasil há quatro. Tímida e simpática se comunica bem em português. Durante a semana, trabalha em uma confecção na região do Bresser, e aos fins de semana, complementa a renda participando da feira. Os cereais e produtos típicos de sua barraca são comprados em viagens esporádicas à Bolívia, quando mata a saudade de sua família. Acredita que aqui no Brasil a sua vida é melhor, devido ao emprego, mas gostaria de retornar à Bolívia assim que os filhos, que são estudantes universitários, finalizarem os estudos.

Enquanto isso pretende participar da feira, que considera um local de encontro com o povo de seu país. Lá compartilha com conhecidos a experiência e aflições de viver longe de sua família e a busca por uma vida melhor como imigrante em um país tão diversificado. É uma maneira que ela e a comunidade boliviana encontraram para manter viva e fortalecer, não só os laços de amizade, mas também os de sua cultura aqui no Brasil.



*Jana Freire, vive na cidade de Óz, é formada em Letras e atualmente trabalha com publicação científica.

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