quarta-feira, 17 de junho de 2009

A menina que colecionava colheres

Por Bianca Müller

Antes dela ser um utensílio doméstico, uma ferramenta muito útil para a alimentação ou até mesmo um objeto de suma importância para a culinária, ela é o meu item de colecionador.

Tudo começou em uma tarde na sorveteria em meados da virada do século. O sorvete, o lugar, a companhia... nada disso eu lembro. Mas a colher... Ah, foi inesquecível! Pequena, de plástico transparente, azul e toda redondinha. Não tinha nada a ver com aquela horrorosa pazinha de madeira que raspava nos dentes. Ela tinha forma, cor, formato e função. Um verdadeiro objeto de design.
Agora imagina você indo embora levando a colher. Aparentemente normal, se eu não quisesse levar uma de cada cor. Elas eram lindas poxa! Depois de experimentar alguns sabores e dar a desculpa 'a colher quebrou', consegui meia dúzia de cores variadas. E foi assim que tudo começou...

Teve outra ocasião, em uma sorveteria fina de um shopping chique em que a colher mais parecia uma espátulo. Entrou na coleção. Outra já parecia uma colher de medidas, de tão funda que era. Item de coleção.

Na família começaram a comentar:"Você sabia que a Bianca coleciona colheres?”. Era um espanto. Os mais velhos achavam que isso era síndrome de solteira e diziam: “Tadinha, ela quer casar logo, já está até montando a casinha...”.

Porém a revelação teve seu lado positivo: as pessoas começaram a se envolverem e enriquecerem a coleção junto comigo. Era um tal de prima vir com um modelo novo, tia comprar uma bonitinha na lojinha, vó achar um faqueiro antigo com uma colherzinha rebuscada...

O ápice da coleção foram as colheres internacionais. Em viagens a Espanha e Inglaterra meu pai encontrou o meu objeto predileto todo em prata e com brasões internacionais! Na maior surpresa ele trouxe os presentes embrulhados em papéis florais e protegidos por caixinhas plásticas revestidas internamente de veludo azul. Esses, de tão lindos, viraram meus chaveiros de todo dia. Confesso que já fiz uso deles. Quem não tem garfo, come de colher oras!

Mas afinal, qual é a graça de colecionar colheres? Buscar no usual e comum algo diferente. Tento ver, com um novo olhar, um objeto que todos usam diariamente. É poder estufar o peito e dizer: tenho 58 unidades diferente para provar que elas realmente são fantásticas!
* Biaca Müller, paulista, formada em desing gráfico, trabalha em moda. Gostaria de ter parido a Madonna. Contato: bia.mr@globo.com

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