quarta-feira, 17 de junho de 2009

Vamos cupopiá?

Como uma língua que mistura o português com dialetos africanos da época da escravidão ainda vive no Brasil do século 21

Por Juliana Mir Tonello



Cupopiá significa falar, na língua Cupópia. Mas cupopiá hoje é privilégio - ou persistência - de poucos. A língua, criada no Brasil com origens africanas, já foi a principal comunicação de uma comunidade rural no interior paulista no século 19. Hoje, é falada fluentemente por apenas três pessoas, bisnetos dos escravos Ricarda e Joaquim Congo, fundadores da comunidade que um dia já foi quilombo, chamada Cafundó.

Apesar da origem banta, o idioma de família nígero-congolesa foi criado em terras brasileiras. Ele nasceu nos tempos da escravidão, no Caxambu, bairro rural do município de Sarapuí, interior de São Paulo, e, daí, espalhou-se para um quilombo próximo, hoje único na região, o Cafundó. “A língua aconteceu aqui no Brasil. A estrutura de frase dela é da língua portuguesa”, explica Sílvio de Andrade Filho, que pesquisa a cupópia desde 1988. Já as palavras utilizadas são todas de origem africana, com exceção de algumas expressões, como “respeito do ngobe”, que pode ser traduzida como “respeito do boi”, e é usada para designar arame farpado.

Mesmo com um vocabulário de apenas cerca de 150 palavras (a língua portuguesa tem quase 230 mil), não é possível compreender o que é falado. Além do significado inicial, cada palavra adquire outros sentidos no contexto em que é inserida, e novas expressões são formadas a partir da união de duas ou mais palavras. "Nangá do viso", por exemplo, ao pé da letra traduzido como roupa do olho, significa óculos.

Marcos de Almeida, presidente da associação de moradores do Cafundó, explica que, hoje, a cupópia aparece no dia-a-dia da comunidade apenas na presença de estranhos. “A gente usa mais quando chega uma pessoa de fora que a gente tem que conversar alguma coisa que não é pra eles entender.” Diz isso, e segue com frases trocadas com o irmão, e não traduzidas, diante desta repórter.


Juliana Mir Tonello (jutonello@gmail.com), 23 anos, é formada em Comunicação Social pela Faculdade Cásper Líbero e autora do blog ideiasinteressantes.wordpress.com

Gostaria de ter parido... taaaaantos textos criativos que já li.

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